5 de fevereiro de 2009

Trabalhando com mitologia grega

Lendo as experiências superinteressantes do Thiago (Thi) ao contar mitos para crianças na escolinha onde leciona, pensei em algumas coisas que recomendaria aos professores que consideram trabalhar com mitologia grega em suas salas de aula. Baseando-me no "Greek Religion" de Walter Burkert, trouxe alguns conceitos que podem nortear essa prática:

Primeiro - depois de uma introdução particular sua sobre mitologia - no que se refere ao número de divindades, é bom comentar que algumas deidades antigas eram cultuadas em toda a Grécia, mas outras eram cultuadas apenas em certas cidades e regiões. O motivo do foco nos deuses olimpianos era mais político, mas digamos então que eles seriam os deuses públicos de todos os gregos. Nesse tópico, uma palavra a ser introduzida seria a definição disso, de pertencer a toda a Grécia, ou seja, ser "pan-helênico". E, por falar em pan-helênico, podemos lembrar dos jogos e apresentar os de Olímpia para Zeus e os de Delfos para Apolo, entre outros. Aqui o professor pode ensinar a união e o incentivo de se trabalhar em grupo.

Depois pode-se falar sobre os mitos não serem apenas de deuses. Temos fenômenos naturais, como arco-íris e terremotos. Aqui pode-se usar os mitos para explicar algo sobre o porquê de coisas ruins acontecerem a pessoas boas, qual o papel de cada um em uma família ou em uma cidade, como acontece o eco etc. Para os gregos, o universo tinha uma ordem e beleza, e a vida humana é parte do universo. A palavra curiosa aqui seria "cosmético" (em comparação com "cósmico"), algo que dá ordem e beleza. Aproveitando essa conversa sobre a família, pode-se pedir para eles encontrarem (e talvez desenharem) uma identificação da família deles com membros da família dos deuses, em termos de parentesco, características, atributos, tamanho etc.

E, aproveitando a conversa anterior sobre atributos, em seguida pode-se mostrar que os deuses tinham mais de uma área de influência na vida dos gregos. Por exemplo, Dioniso era deus do vinho, mas também tinha outras especialidades e interesses, às vezes até sem sentido de estarem juntas na mesma deidade. Algumas crianças podem, então, gostar de coisas diferentes, sem que isso seja estranho. Termos várias habilidades é natural, isso nos torna capazes de nos mudar, de nos adaptar, de encontrarmos motivo de alegria em lugares e coisas diferentes, principalmente quando já não podemos estar em um lugar ou fazer uma coisa de que gostávamos. Zeus era ao mesmo tempo deus da hospitalidade e da tempestade, da cidade e da chuva. Enquanto civilização lembra ordem, tempestade lembra caos. E tudo é lindo do mesmo jeito.

Só então podemos introduzir algo sobre crença e devoção às divindades, porque agora elas já estarão mais acostumadas e (quem sabe) apegadas às deidades. Pode-se falar dos festivais nas cidades, dos heróis semideuses (lembrando que os heróis eram humanos que passaram a ser cultuados depois da morte, por seus feitos), dos grupos à parte (Órficos e Pitagóricos) etc. Os seguidores de Asclépio, que era um curador humano, tinha um lugar em Epidauro para receber as pessoas e curá-las através dos sonhos. Aqui pode-se falar sobre sonhos, parques temáticos, locais para onde a gente viaja para se sentir melhor, e escutar as histórias deles sobre seus lugares preferidos, as coisas que mais os divertem e por aí vai.

Enfim, as possibilidades são várias, e essas são apenas algumas sugestões. O que acham? :))

3 comentários:

Sarah Helena disse...

super bem colocado.

Eu costumo começar a contar histórias gregas a partir dos interesses que as crianças trazem -seja na escola ou na família. E sempre acabo lidando um bocado com algum herói que gere uma identificação.
Acho que o jeito como vc colocou a coisa é um ótimo plano...

Luciana Onofre disse...

Quem sabe um dia os babys se regalam contigo sendo a Teacher deles!!!

Amei o texto!

Luciana Onofre disse...

http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0717

pertinente ao texto ;)