21 de junho de 2008

patriarcado, homem e ecofeminismo: um homem lúcido fala


abaixo publico alguns trechos de recente entrevista do leonardo boff ao jornal gazeta do tatuapé, por ocasião do lançamento de seu livro sobre paternidade.

"na sociedade patriarcal, o eixo articulador era a figura do pai, que se incorporava na representação do presidente, do chefe de estado e especialmente do grande senhor da família. (...) nós viemos desssa tradição patriarcal, que tem 10 mil anos de existência e criou o estado, o exército e a guerra. foram as mulheres que fizeram a crítica mais consistente e demolidora do patriarcado, questionando esse tipo de cultura e exigindo um novo paradigma da relação homem mulher. a crítica mundial do ecofeminismo desmascarou essa figura patriarcal, deixando espaço livre para o surgimento de uma nova figura que ainda não acabou de ser formulada."

eu sinto alívio quando ouço um homem falar sobre o ecofeminismo, e não é por causa da milenar suposta necessidade da mulher em ser validada por um homem, mas porque ele viu o que todas nós sabemos: o ecofeminismo não é um movimento para mulheres, mas extrapola qualquer viés de gênero, já que é uma proposta para um novo humano. na medida em que os homens vão descobrindo isto, temos uma re-elaboração dos papéis masculinos e a questão da paternidade é uma das mais essenciais a serem revistas. o pai já não é o senhor de nada e essa destituição de poder traz a oportunidade de fazer surgir um homem parceiro e protetor, que não age contra a mulher ou a natureza pois não está mais sob os efeitos de esteróides morais ou intelectuais que agigantam seu próprio tamanho em relação ao tamanho dos outros seres vivos.

"o ecofeminismo é a denúncia que as mulheres fazem contra a lógica dos homens para dominar o outro, a classe e a natureza. a lógica de reduzir a natureza a um objeto, como fez com a mulher. não basta só o feminismo contra o patriarcado, contra a dominação do homem, que criou o projeto da tecnociência. o ecofeminismo é exatamente contra essa ciência moderna, machista, patriarcal e violenta."

a crítica ao patriarcado é profunda pois não é uma crítica aos homens em si, mas a um sistema que possui muitas facetas, todas elas prejudiciais ao planeta e a todos os seres vivos na medida em que dessacraliza a própria vida e universaliza um modelo único de estar no mundo.

"nossa situação não é de tragédia, mas de crise que prepara o campo para a emergência de algo novo. vivemos uma confusão de valores. os velhos valores ainda não morrerem e os novos não são suficientemente fortes, mas têm a energia da semente que guarda a planta inteira dentro dela. temos que reforçar essa semente para que ela cresça, triunfe na sua lógica para garantir uma humanidade que irradie, que seja solidária, sensível, amorosa. no âmbito da nossa prática, é assim que se constrói o futuro da humanidade."

esta visão do boff está alinhada com uma sabedoria que emana para além de qualquer gênero, e que vê reformulação necessária na decadência do patriarcado e do capitalismo. dá pra entender que os homens se ressintam diante da morte de sistemas criados por eles, mas não é o fim do mundo muito menos o fracasso dos homens em si; é apenas o fim necessário de algo que já não serve mais à evolução da humanidade. e esperamos dos homens essa diferenciação.

3 comentários:

Green Womyn disse...

Belas palavras as de Leonardo Boff... Mas qual seria o nome do livro???

Luciana Onofre disse...

Que irônico e injusto que alguém como ele, por externar uma ideologia não patriarcal, seja punido com a exoneração do seu papel sacerdotal...
Isso diz muito, mais do que mil palavras!

Parabéns Celia!

Anônimo disse...

olá amadas,
o nome do livro é "são josé: a personificação do pai". boff propõe, baseado na figura de são josé, um modelo atual de paternidade. eu quero ler. pra mim, o leonardo boff já provou que está muito bem sintonizado com muitas das questões que nós consideramos importantes.
obrigada pelos comentários!