13 de maio de 2008

uma abordagem pagã sobre diferenças

uma coisa que eu acho fantástica acerca do paganismo, é que o politeísmo pagão (muitos deuses válidos) abre o precedente na vida das pessoas para o politeísmo ideológico (muitas idéias ou verdades válidas). isso é tremendamente libertário e tolerante. pra mim, além disso, também é simbolo de maturidade pois o diferente deixa de ser ameaçador. é preciso muito treino para que o diferente deixe de nos colocar automaticamente na defensiva. e eu pessoalmente devo parte desse meu treino ao paganismo e ao politeísmo que abre as portas para a existência de múltiplas verdades simultâneas.

o cristianismo e as religiões que pregam um deus único pregam a supremacia, a competição, a exclusão, a dicotomia, a oposição, a esquizofrenia. se não é o meu deus, é errado. até no exercício de uma coletividade, o que se pressupõe é que todos estejam com a mesma idéia (e eu me recordo imediatamente da máxima "quando todos estão pensando igual, ninguém está pensando"). a coletividade baseada num deus único ou numa verdade única é fundada numa concordância que a partir de certo ponto é irreal, impraticável e insalubre.

a crença na verdade única é a base pra toda intolerãncia e fundamenta o patriarcado afinal de contas. 'apenas um está com a razão, sou eu, e vc deve me seguir' - isso cria uma força muito destruidora e todos nós podemos ver seus efeitos concretizados no nosso mundo. discutir sobre diferenças em pé de igualdade é muito diferente de lutar pra impor sua opinião, mas na prática a gente tem dificuldade em identificar essas duas situações. a idéia do deus único nos educa para lidar de forma imatura com as diferenças, pois implica automaticamente num certo contra todos os outros errados. uma única verdade exclui qualquer possiblidade de outras verdades, outras alternativas. é restritiva... e até onde eu posso ver, restrição não é lá uma boa diretriz para o desenvolvimento humano.

é verdade que quando a gente pensa em comunidade, em valores morais, se torna necessário um consenso e em
certo ponto, até uma imposição. estou pensando estritamente no meu papel de mãe; em coisas que o meu filho tem que me obedecer para não morrer atropelado, para não ficar doente ou para não se tornar um robô replicante de uma hegemonia que tem seus dias contados. toda mãe concorda que algumas coisas não estão abertas a discussão, na tarefa de educar. e aí éque está o grande desafio - a mulher pagã sabe que a tarefa de educar passa por um treino da convivência mais pacífica possível entre os diferentes, apesar de ser absolutamente necessário que durante certo tempo, os que estão sendo treinados ou educados se submetam a um conjunto de regras mais ou menos 'indiscutíveis' (vc pode não comer exatamente ao meio dia, vc pode não comer vegetais ou carne, mas vc tem que comer alguma coisa ora bolas!!!).

a educação, qualquer educação decente, tem como objetivo amadurecer as pessoas, dar ferramentas para que ela se torne autônoma, adulta, inteira. ninguém quer ser educado para permanecer escravo ou eternamente menor do que quem o educou. no meu pontode vista, a educação baseada na idéia de uma única verdade ou um único deus, não dá ferramentas suficientes para que a pessoa supere a reação defensiva automática diante do diferente, pois pressupõe que um sempre será melhor do que o outro. não existe igualdade possível dentro desse universo conceitual. e, se sempre tem um melhor, ou se sempre tem alguém pensando 'mais certo', não existem adultos.

por anfibia, mãe de um menino de 4 anos, pedagoga e pagã.

2 comentários:

Green Womyn disse...

Uma ótima estréia!

Luciana Onofre disse...

Tolerância e respeito entre as diferenças, apreendendo delas a riqueza que nasce da diversidade!