22 de junho de 2008

A tênue película


Nas últimas semanas um seriado da tv fechada têm captado minha atenção "Mad Man". Não somente por retratar um período de extremo machismo, patriarcalismo do século XX, mas por permitir que se faça uma analise comparativa entre aquele então ( décadas de 50/60) e o nosso hoje.
Uma comparação não ao todo negativa, pois mostra fatos que valorizam a nossa presença maternal nos nichos familiares.
Sim, é claro que são outros tempos, cinqüenta anos nos separam. Mil e um acontecimentos tornam impossível reproduzir as relações familiares de outros períodos espalhados na linha do tempo.
As mulheres desse momento eram educadas com uma orientação extremamente limitada ao lar, hoje somos jogadas ao mundo, onde este mundo exige que habitem em nós, mil mulheres, e que cada uma delas deva ser perfeitamente capaz de levar adiante seus ofícios: o de mãe, profissional, amiga, amante, esposa, parente, educadora, et al...

Sería aquela mãe mais preparada do que nós?
É muito subjetivo valorizar isto. Mas algo que não pode ser negado é que aquela mãe contabilizava mais horas no lar do que a mãe de hoje.

Era isso mais saudável?
Também depende de diversos fatores, como a saúde mental, física, emocional das mães.
O ambiente, a sociedade a direcionava para esse papel. Logo se esperava que sendo "apenas" essa a sua função, a de "cuidadora do lar", seu desempenho tería que ser notável.

Um personagem ausente nessa trama e que ainda viría a requerer citação em décadas posteriores é o da babá.

Apenas com a onda da liberação feminina, com a inclusão da mulher no mundo público, extra-lar, esse personagem ganha espaço, e é desvinculado do núcleo familiar. Por também as avós estarem indo à luta no mercado laboral, ou por que as jóvens mães, permeadas pelos dogmas anti-dogmas da geração "power flower", prescindiam das avós, a fim de libertar-se de qualquer amarra ou lembrança que as vincule ao tempo de repressão machista.

Assim a mãe-mulher se desloca do seu cenário bucólico e mergulha no mundo sem fronteira "casa-trabalho".

A babá é um papel assumido então pelas mulheres mais jovens que ainda não possuem um preparo completo para outro emprego ou pelas mulheres que ficam em casa.
Em ambos casos a mãe nem sempre terá com a babá uma parceria, ou uma extensão nela, da sua bagagem sócio-cultural.
Esta relação perdura até nossos dias.
Dias em que mesmo com todos os dispositivos modernos e avanços tecnológicos, a capacitação da babá não sofreu mudanças significativas positivas e muitas sim, no sentido contrário.

Tendo em vista que erroneamente este emprego é entendido como algo simples de executar, passível de ser apropriado por qualquer pessoa e de qualquer idade. E principalmente se exalta a facilidade em ser babá, o simples da função, a falta de necessidade de capacitação para ela.

De forma em que, os filhos terminam por refletir uma filosofia e crenças dissemelhantes às da mãe e do pai, pois passam a conviver intimamente na maior parte do tempo com quem os "substitui".
Nesse substituir cabe determinar claramente qual o papel da babá dentro da dinâmica familiar. Que em situações normais e salutares é o de ajuda, complemento e aplicação da filosofia da casa.
E não o de inserir a seu gosto costumes e práticas, que em sua maioria diferem daquela exercida pela família.

Quando há diferenças de credo, esta situação se complica, pois geralmente a pessoa contratada pertence a uma das religiões dominantes. E mesmo que ela não seja praticante assídua, acaba por interferir na orientação religiosa da criança.
Repassando valores em suas falas, em suas prenoções e folklore.

O quê fazer? Deixar o mercado de trabalho? Criar filhos em ilhas emocionais, e sócio-culturais?
Obviamente não.

A solução radica no monitoramento, não aquele saturado de parafernália cibernética, (quando há ótimo), mas sim de acompanhar a evolução da vida intra-lar, de participar ativamente nos processos internos da família, da escola, parentais...

De revestir de valor as crenças e hábitos da família, e deixar claro que a babá ocupa um lugar na casa como cuidadora, como ajudante, jamais como subsituta dos pais.

No nosso caso, pais pagãos, cabe a nós, no primeiro contato com aquela pessoa que escolhemos como babá esclarescer que somos participativos, que esperamos dela respeito para com nossa religiosidade, que em nenhuma hipótese ela pode vir a ser objeto de chacota, ou desmerecimento.

E o mais importante não ter pressa nas nossas escolhas, usar de todos os cuidados que se requer numa seleção de funcionários, pois este funcionário irá cuidar do seu bem mais querido: seu filho.

Há uma fina película que separa os espaços da mãe, do pai e da babá, temos que ver através dela, ouvir, sentir, e mantê-la firme, sem que todos os participantes dessa dinâmica percam suas identidades e misturem valores!

Besos,


Luciana Onofre

3 comentários:

Anônimo disse...

olá querida.
mais uma vez, pertinência de sobra no seu artigo.
vc deve conhecer o hábito brasileiro de trazer meninas do interior, às vezes até impúberes, para fazer o papel de babás.
sempre penso que não poderia jamais colocar como babá, alguém que sabe menos do que eu.
obrigada!

trio.cesarini@yahoo.com.br disse...

Vc assistiu o filme 'A mão que balança o berço"
É um verdadeiro terror e tudo serve de alerta em relação a quem colocamos em nossas vidas.
Beijos

Luciana Onofre disse...

Sim, pequenos seres cuidando de outros menores ainda!
Exatamente! Nunca alguém que saiba menos do que a mãe...

Trio aquele filme de calafrios, a tv e a midia espalham terror, pq é como a Celia colocou, a profissão 'babá' foi sempre banalizada...

Mil beijos para vcs!